domingo, 20 de fevereiro de 2011

Consultas com menos de dois minutos revoltam pacientes do SUS (Isso é um descaso com o ser humano)

Sogra e nora tinham consultas marcadas com o dermatologista às nove horas de quinta-feira. Esperavam sentadas no corredor de uma grande unidade que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Maringá. A enfermeira aparece na porta e chama Marley e Orlanda. No consultório, ouvem atentas as palavras do médico.

Orlanda Vergani Ferrari, 76 anos, tem retorno. A nora Marley Aparecida Ferrari, 51, quer um remédio contra a micose na unha do dedão. A consulta termina dois minutos e 48 segundos depois. O dermatologista - único credenciado pelo SUS para atender trinta municípios - levou um minuto e 24 segundos para atender cada paciente.
Dona Orlanda voltou para casa com a indicação de que retornasse em seis meses, e Marley saiu com a prescrição solicitada; ambas insatisfeitas. O médico atende cerca de trinta pacientes por dia nessa unidade.
O Diário cronometrou o tempo que os pacientes passam em consultórios médicos nessa unidade e também em um posto de saúde de grande movimento. Dezoito pacientes foram acompanhados - nove em cada - em consultas com sete médicos de especialidades diferentes.
A consulta mais longa teve a duração de 26 minutos e 45 segundos. Em três delas, os pacientes ficaram menos de cinco minutos dentro do consultório, mas em geral o tempo dispensado aos doentes foi de nove minutos, abaixo do recomendável pelo Conselho Federal de Medicina, que é de 15 minutos.

Sogra e nora moram em Paiçandu e esperaram dois meses pela consulta. Orlanda passou por um procedimento médico no fim do ano passado para "queimar" as manchas na pele provocadas pelo sol. O retorno ao médico foi para que ele avaliasse o resultado.
A paciente relata que o médico nem se levantou da cadeira. "Eu que levantei e fui até ele mostrar como ficou", diz. "Eu achei que ele fosse perguntar mais coisas, mas só disse para retornar dentro de seis meses", completa, decepcionada.
Dona Orlanda sempre dependeu do SUS. Ela ficou anos exposta ao sol enquanto trabalhava nas lavouras de café e algodão em Alto Paraná (a 59 quilômetros de Maringá). As manchas, nos braços e no rosto, são resultado do trabalho. Hoje, evita o sol. "Só saio de casa protegida com guarda-chuva", comenta.
Um pouco melhor
No posto de saúde, dois médicos atendiam pacientes na manhã de sexta-feira. Às oito horas, onze pessoas aguardavam a consulta. Uma das médicas atendeu seis em uma hora; média de dez minutos cada.A auxiliar de cozinha Mafalda Felipe passou cinco minutos e vinte segundos com a clínica geral. "Foi rápido porque apenas pedi exames de rotina", esclarece, ao justificar a rapidez do atendimento. A consulta mais extensa foi a de um adolescente acompanhado da mãe: 18 minutos e 40 segundos.

No consultório ao lado, um pediatra atendeu quatro pacientes em 31 minutos. A consulta mais longa somou onze minutos e 27 segundos; a mais rápida, quatro minutos e 38 segundos.
A reportagem de O Diário não conseguiu abordar os pacientes porque foi barrada na unidade básica, sob a justificativa de não ter autorização prévia da prefeitura para produzir uma reportagem no local, embora o espaço seja público.
Outro lado
O secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi, diz que o município adota os padrões da Organização Mundial da Saúde sobre o número de consultas por horas trabalhadas. O médico atende até 16 pacientes em quatro horas. "É claro que o tempo que se dispensa depende do profissional e da patologia".
Ele cita que alguns atendimentos são rápidos em função do acompanhamento feito pela equipe do Programa Saúde da Família. "Um hipertenso com a pressão controlada às vezes precisa marcar com o médico só para pegar uma receita nova". Nardi garante que nenhum médico atende pacientes além da cota diária.

Zás-Trás
84 segundos foi o menor tempo de duração de uma consulta cronometrado pela reportagem de O Diário.
Carla guedes

Nenhum comentário: