domingo, 13 de fevereiro de 2011

Militares relatam o rigor dos cursos para integrar as tropas de elite

A morte nesta semana de uma administradora de 25 anos durante um treinamento

para sargento do Exército no Rio de Janeiro expôs a dureza dos cursos militares no Brasil. A jovem passou mal após uma caminhada de 8 km. Segundo a família, ela reclamava seguidamente das exigências das atividades físicas no treinamento.
Em janeiro, em um caso semelhante, um policial militar que estava havia 14 anos na PM do Rio também morreu no primeiro dia do treinamento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Um PM que participou do curso relata ao G1 que o treino coloca “o homem para enfrentar os piores de seus medos”.
Ex-comandante do Batalhão de Forças Especiais, a tropa de elite do Exército, o general da reserva Alvaro Pinheiro diz que “a finalidade desses cursos é testar o individuo do primeiro ao último dia”. “Até mesmo militares convencionais criticam o excesso, dizem que vivemos fora da realidade, que não é preciso tudo isso. Mas o programa dos cursos é aprovado e, se exige demais do militar, é porque ele será o melhor”, acrescenta o oficial, ex-integrante das tropas de Comandos e Forças Especiais.
Nos cursos de tropas de elite, o rigor é extremo: militares chegam a passar um dia tendo como alimentação apenas uma colher de arroz, dormem 3 horas por noite e têm de fazer caminhadas de até 40 km na mata fechada, em meio à escuridão, sem lanterna, sem tirar os coturnos e sem reclamar.

O objetivo, diz o especialista em treinamento militar Daniel Motta, é fazê-los capazes de tomar decisões rápidas em meio a situações de caos, como um tiroteio com criminosos em poder de reféns, mesmo estando cansado, com fome e sede. “Espera-se do homem algo humanamente impossível ou exageradamente difícil, pois são unidades e homens que irão se deparar com situações onde nem os policiais ou militares normais conseguem ajudar”, diz.
"Tudo o que passei por esses cursos foi necessário para me dar experiência em combate, saber reagir rápido na hora do pânico”, diz um militar do Exército que atuou na pacificação de uma favela violenta na missão de paz da ONU no Haiti.
O soldado Maurício (nome fictício) perdeu no ano passado 10 kg durante o curso do COE (Comandos e Operações), unidade de elite da PM de São Paulo. Entre os 37 militares que começaram o treinamento, apenas 12 concluíram. O restante pediu para sair porque não aguentou a pressão.
No ritual de desistência, o policial tem que tirar o boné, que leva o seu número, e tocar um sino – “é uma forma de humilhação na frente do restante do grupo, mostrando que não tem condições de continuar”, conta um participante.G1

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